Apreciar arte é algo tão pessoal, depende de experiências, sentimentos, sensibilidade e exige paciência. Observar no seu tempo, sem regras, a arte é liberdade. Aprendemos isto há pouco tempo, a arte já foi cobiçada por ricos, ficou no acesso apenas dos nobres e estudiosos tentaram definir o que extrair de grandes obras.
Após a Revolução Industrial, as coisas mudaram e o processo de massificação atingiu as artes. Democrático ou não, a revolução trouxe novos caminhos, novos olhares, possibilidades diferentes, expressões do seu tempo. Maravilha! E várias questões também, a primordial delas: O Que É Arte? Será o suporte que faz a arte? Será seu conteúdo crítico? Arte é beleza? Muitos tentaram contestar e reprimir as novas formas, o movimento nazista iniciou sua perseguição pela “arte degenerada”, como era chamada a arte moderna pelos intolerantes, que tentavam restringir a liberdade de expressão e novos pensamentos libertários.
Com a Revolução Tecnológica veio a expansão de todo o universo artístico. Interatividade a todo custo, afinal os museus estão perdendo público para o entretenimento das redes. Incrível poder trazer novas experiências para um público que perde atenção tão facilmente. Adaptar-se é humano, libertador e artístico também. Sentir-se presente em uma exposição é realmente uma experiência memorável. Mas será que estamos fazendo isto da melhor maneira?
Já que não precisamos visitar um museu para apreciar a arte, que valor tem uma caixa cheia de obras? Forte a expressão, não?! Agora imagine você, que está tão familiarizado com a imagem de “Mona Lisa del Giocondo”, por Leonardo da Vinci. Nos livros, na TV, uma imagem definitivamente popular. A possibilidade de ver esta belezura de perto te encanta por motivações sociais, mas chegar lá para observar um quadro que você imaginou magestoso (tanto tempo para pintá-lo!) e perceber seu tamanho, peraí, tem fotos de família maiores que esse quadro! Viagem perdida? Nem pensar, vamos revelar ao mundo sua proporção chocante! Selfie atrás de selfie, espremendo-se entre a multidão, mais parece um show de rock. Uma verdadeira epopeia tentar apreciar a famosíssima de perto, com apenas seus pensamentos e sensações.
O fascínio por Monalisa está portanto transmutado. Antes sua beleza (clássica), seu mistério (psique), a técnica (reprodução) e por vez: sua popularidade, status e formato real.
Agora, você é daqueles que percebe estranheza no ato de olhar e não ver?
Deveria se espantar com nossa incapacidade de observar algo sem o uso da tecnologia? É possível absorver algo em sua essência, sem o auxílio de ferramentas, por vezes esquecidas, como o silêncio, a paciência e o sentir?
Alguns museus estão separando os “amantes de selfies” dos apreciadores em geral. Como? No museu Belvedere em Viena na Áustria, criou-se um ponto oficial para selfies com um aviso indicando onde estaria a réplica do quadro “O Beijo” de Gustav Klimt e a localização da obra original, em outro ambiente sem permissão para imagens. Os visitantes entusiastas de selfies não se incomodaram em nada, agora podem se aproximar mais da obra com espaço suficiente para poses, sem empurra-empurra e ainda tiveram alguns que ficaram confusos qual seria a arte original.
É preciso criticar certos comportamentos, mas seria este exagero de exposição algo benéfico para a arte? Mais pessoas se interessam por “Mona Lisa” ao ser representada em um meme? Possivelmente, sim. A arte pode ser “cool” novamente para os jovens que perderam o interesse. A exposição é superficial e muitos não vão em busca de mais informações? Provavelmente, sim.
No rodapé da placa que sinaliza a réplica e o original de Gustav Klimt, estão instruções de compartilhamento para participar de uma competição com prêmios, demonstrando o interesse do museu em garantir sua exposição. E claramente separando aqueles que observam a arte em diferentes maneiras.